Méritos, Truques e Habilidades Populistas

Os três anos mais conturbados da vida do autarca de Gondomar, contados em 200 páginas pelo seu ex-assessor de imprensa. Uma reflexão sobre o populismo e sobre o estado da política portuguesa... um verdadeiro manual sobre como ganhar eleições em Portugal

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Vem bem a propósito do momento que vivemos em Portugal por causa do Freeport... vejam o que escrevi, no meu livro, sobre as "teses da cabala"

"(...) Quero, por isso, deixar claro que desconfio sempre da tese da cabala, quando ela é apresentada como explicação para os fracassos pessoais e políticos de figuras públicas.
Desconfio sempre muito das queixas de um líder partidário que, a propósito de um escândalo sexual, vem alegar que a destruição da sua carreira política foi orquestrada pela imprensa ou por alguém que a manipulou e que, conscientemente, levou a que um conjunto de informações falsas fosse difundido. Desconfio sempre muito quando um Primeiro-Ministro acabado de ser demitido aponta aos meios de comunicação social as razões da sua desgraça. Desconfio ainda mais quando um
líder de um partido, perante o fracasso da sua própria política de comunicação, aponta aos opinion makers a razão do seu insucesso.
Mas, a política é mesmo assim. Políticos e partidos políticos procuram sempre explicar os seus fracassos com factores externos e nunca com a sua própria incapacidade. A imprensa é o alvo mais fácil quando não se quer atribuir aos adversários políticos o mérito de os terem destronado.
Reconheço que os jornalistas cometem muitos erros e muitos deles são pouco rigorosos, mas não acredito que isso seja consequência de campanhas intencionais organizadas ou iniciadas pela própria imprensa. Nem consigo imaginar os directores dos jornais e das televisões reunidos num restaurante discreto de Lisboa a congeminar acerca da próxima vítima a abater. Aliás, admitir isso seria atribuir à imprensa portuguesa um poder que, na realidade, não tem. E seria necessário que a classe possuísse um sentido corporativo que não tem e que está a anos luz de classes como a dos médicos, professores ou dos juízes, por exemplo. Por mais erros e inverdades que certos jornalistas cometam e por mais violenta, negligente ou intencional que seja a falsa informação difundida, ela não é suficiente para destruir uma figura política sólida. (...)"


"(...) O mundo da comunicação é, portanto, um pouco mais complexo do que parece ser. Tem os seus defeitos e virtudes, os seus bons profissionais e os parasitas do sistema, mas não pode ser o bode expiatório do fracasso de carreiras ou da desgraça alheia. Aliás, para além disso, não podemos estar à espera que a comunicação social nos sirva quando nos dá jeito e se torne surda e muda quando o assunto nos desagrada.
Enquanto fui assessor de Valentim Loureiro procurei sempre ajudá-lo a perceber tudo isto e que é a própria comunicação social quem tem que resolver estes seus problemas e não os políticos. Mas compreendi-o, quando me explicava que é complicado manter a paciência perante erros grotescos e sistemáticas faltas de rigor…

Outro conselho que por várias vezes dei a Valentim Loureiro, sobretudo antes de grandes entrevistas e debates, foi que nunca se afirmasse vítima de campanhas ou cabalas, isolando-se. Nesse aspecto, o Major esteve sempre de acordo. Aliás, Valentim não precisava que lho dissesse, pois ele entende, como ninguém, o funcionamento da comunicação social, as suas fraquezas e as suas virtudes. Alguns exemplos mais recentes de intervenções de Valentim Loureiro na comunicação social deixam-me, contudo, apreensivo. Certamente cansado e desgastado, o Major tem vindo a cair na tentação de identificar a imprensa e alguns jornalistas como os seus inimigos. Orgulho-me de ter conseguido evitar essa imagem durante o tempo em que fui seu assessor. Disparar publicamente contra este ou aquele jornalista, elogiar outros, porque pontualmente nos parecem ser mais sérios, não é um bom caminho. Por mais que lhe assista esse direito e por mais razão que sinta ter, não aconselharia a nenhum cliente esse princípio de actuação. (...)"

1 comentário:

Nuno Roboredo disse...

Há muito tempo que fazemos de conta que nada acontece. Ainda alguém se lembra do caso do “FAX de Macau”, dos idos anos 90? Aos que se interessam por estas histórias de corrupção e jogos de influência, recomendo o livro “Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido”
Pode ser feito o seu download no seguinte link:
http://rapidshare.com/files/
40866664/Contos_Proibidos.pdf
Escrito pelo ex-deputado e ex-dirigente do PS - Rui Mateus. Contado, por tanto, na primeira pessoa e muito bem documentado, com fotografias da época e com 47 anexos que são cópias de documentos, como recibos, cartas, etc.
É um livro que ninguém desmentiu.
ÉConta toda a história do PS desde a sua fundação em 1973 até 1996, altura em que foi escrito.
Foi escrito por Rui Mateus, que ajudou a fundar o PS com o Mário Soares e outros, mas depois foi afastado.
A digitalização não está grande coisa, mas dá para ler.
Aproveito para informar que o primeiro e talvez o segundo capítulo são um pouco “chatos” ou difíceis de ler, o que pode desmotivar a leitura dos restantes.
No entanto, à medida que se avança, começa a haver relatos de jogos de poder e aldrabices, envolvendo as mais conhecidas personalidades do PS. Relatos esses muito bem referenciados (livros escritos por outro autores, jornais, revistas, actas de reuniões, etc.) e com cópias de documentos nos anexos do livro, que os tornam credíveis (ou pelo menos confirmáveis). E tornam o livro muito interessante.