Méritos, Truques e Habilidades Populistas

Os três anos mais conturbados da vida do autarca de Gondomar, contados em 200 páginas pelo seu ex-assessor de imprensa. Uma reflexão sobre o populismo e sobre o estado da política portuguesa... um verdadeiro manual sobre como ganhar eleições em Portugal

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Os jornalistas/políticos, os técnicos/jornalistas e os políticos/técnicos


Um destes dias, participei num jantar debate sobre o TGV. A iniciativa pertenceu a uma associação portuense que convidou, entre outros, a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, o Professor Álvaro Costa, da Universidade do Porto, e o jornalista Carlos Magno.
Foi muito interessante assistir ao desenrolar da conversa, em jeito informal, que me foi dando pessoalmente argumentos para aceitar essa obra pública como boa e cuja utilidade ainda não tinha conseguido entender.
De qualquer forma, serve este exemplo para ilustrar (e aplicar a Portugal) aquilo que ontem postei acerca de Obama e McCain. Isto é, acerca do medo de errar, que é tal, que leva os políticos a inverterem a sua própria razão de existir.
Nesse jantar debate a que assisti, a Secretária de Estado Ana Paula Vitorino fez uma longa e técnica explicação acerca do TGV. Percebemos todos. Depois, veio o Professor Álvaro Costa, e fez a apologia da prioridade a Norte, para aquela obra. De seguida, um espanhol, representante do projecto espanhol do TGV na Galiza, explicou-nos o que se vai passar do lado de lá da fronteira, quanto à linha Porto-Vigo.
Finalmente, Carlos Magno, elogiou “a Ana Paula”, com quem acabara de jantar e elogiou, sobretudo, o seu discurso “engenheiral”.
Ora, eu não elogio os governantes quando eles têm discurso “engenheirais”. E não me refiro, concretamente, àquele jantar que, além de agradável, até seria um bom local para se inverterem papeis. Mas, o facto, é que em Portugal se assiste actualmente a um enorme medo de fazer política.
Aquilo a que assisti naquela noite é, afinal, muito parecido com o que tem sido a vida política portuguesa. Os políticos falam como técnicos, os técnicos são mais mediáticos que os jornalistas e os jornalistas fazem política…
De facto, a política está tão desacreditada, que nem os políticos conseguem assumir as suas próprias convicções. Para darem um passo, encomendam 20 estudos que possam sustentar o que querem fazer, sem terem que o assumir politicamente.
Gostava, por uma vez, de ver os políticos fazerem política, assumindo os erros, quando os houver, e credibilizando a sua própria existência, sem terem que se pendurar permanentemente nas opiniões dos técnicos e no aval dos jornalistas. Claro que os estudos são necessários e que a crítica jornalística pode e deve ser pertinente, mas, neste momento, a inversão de valores é total.
No meio de tudo isto, chocou-me algo que ninguém deve ter reparado. Enquanto, naquela sala, ouvíamos Carlos Magno fazer política, Álvaro Costa passar por jornalista e a “Ana Paula” fingir ser um técnico, o “nosso amigo espanhol” (como alguém a ele sse referiu), acabou por nos dizer onde passará o TGV na Galiza, quantas pontes terá, quantos túneis atravessará, qual a profundidade dos túneis, como entra nas cidades, onde serão as estações, quando estará pronto e quanto custa. Além do mais, que me lembre, foi o único orador que tratou "a Ana Paula" por "senhora Secretária de Estado"!
Voltando a concordar que, de vez em quando, faz sentido invertermos os papéis e discutirmos informalmente estas questões, na verdade, a vida política portuguesa tem sido isto. Falamos muito, ninguém assume as suas reais responsabilidades políticas com coragem e, no final, ouvimos dizer que Espanha já fez ou já está a fazer…

2 comentários:

PR disse...

Caro Nuno,

Só hoje tomei conhecimento do seu blogue, mas deixe-me desde já dar-lhe os parabéns.
De facto, como já deixei escrito numa caixa de comentários mais abaixo, hoje em dia a política está robotizada.
Nada pode fugir ao padrão terrível que é o "politicamente correcto".
Os políticos de hoje, talvez por saberem que no fundo não são tão inteligentes como querem dar a entender, arriscam pouco com medo de errar. E isso torna-os máquinas de fazer política. E não homens/mulheres na política..

... disse...

Obrigado pela referência no seu blog. Espero que leia o meu livro, pois medito bastante sobre estas coisas que interessam a alguns