Luís Pedro Nunes escreve todas as semanas na revista Única, do Expresso, mas o seu trabalho como director do jornal humorístico "Inimigo Público" (suplemento do Público) e como membro do "Eixo do Mal", emitido na SIC, é igualmente relevante.
No sábado passado, a crónica que assina na Única tinha como título "As massagens do Major e da AIG" numa curiosa alusão ao valor relativo das coisas. Conta, por isso, parte de um dos episódios que escrevo no meu livro, dando a conhecer uma conversa que Valentim Loureiro teve com um técnico de acupunctura, pouco antes de uma conferência de imprensa. O Major tinha acabado de ser sujeito a uma sessão terapêutica e, quando ia pagar, deu uma lição de marketing comercial ao rapaz que lhe tinha espetado as pequenas agulhas.
Luís Pedro Nunes usa esse exemplo para mostra como é relativo e, por vezes, enganador o preço e o valor das coisas, lembrando os custos que administradores da seguradora AIG terão tido na sequência de festas ou reuniões de interesse duvidoso, pelo menos, para o comum dos mortais.
Na verdade, o Luís Pedro tem razão e a comparação nem é disparatada. Por vezes, ouvimos falar de certos custos que o próprio Estado tem e nem sempre entendemos a sua real dimensão. É que, quando a conta passa para o lado dos "milhões", nós (a classe média), deixamos de saber o que é muito ou pouco. Gastar 15 milhões ou 150 milhões num estudo de consultadoria que o Governo encomendou para a construção de uma coisa como um aeroporto, é, para nós, igual.
Se falarmos de uma refeição ou de um custo com um hotel, conseguimos perceber que há diferença entre 50 euros ou 500 euros, mas a nossa percepção da dimensão dos custos termina quando saltamos a casa dos seis dígitos.
E disso se valem, muitas vezes, os políticos, governantes e empresários. Valem-se da falta de termo de comparação e da natural falta de percepção que o cidadão normal tem quando se fala de verbas que não estão dentro daquilo que é o seu próprio universo de gastos.
No meu livro, conto os bastidores de uma conferência de imprensa que Valentim Loureiro deu a propósito dos cartões de crédito da Metro do Porto. E esse é, agora, um bom exemplo. Num relatório do Tribunal de Contas onde se criticava quase tudo, em 700 páginas, e onde se punham em causa gastos no valor de milhões de euros em obras da empresa que era presidida por Valentim Loureiro, aquilo que a opinião pública reteve com maior facilidade, foi o plafond de 750 euros que os administradores teriam num cartão de crédito. Essa foi a notícia, e foi isso que foi posto em causa. E porque? Porque esse era o ponto de contacto dos cidadãos com a realidade.
De resto, as notícias de gastos de milhões passam, normalmente ao lado da opinião pública, que nem faz o menor esforço para avaliar a sua utilidade. No entanto, o ordenado do Direcor-Geral das Finanças já é capaz de escandalizar muita gente.
Vem isto a propósito do recente relatório do Tribunal de Contas que indica que o Estado terá gasto, desde 2004, 134,4 milhões de euros em consultores, quase sempre sem concurso, sem obedecer a regras de contratação e sem haver, sequer, consulta ao mercado.
Quantas pessoas, dois dias depois, ainda se lembrarão desta história? E do valor? E do seu significado? Quase nenhumas!
No entanto, se a notícia fosse que José Sócrates tinha comprado uns sapatos por 400 euros e o Governo os tivesse pago... daqui a 10 anos, ainda nos lembraríamos disso, como todos ainda recordam a rábula do "Gato Fedorento" a desfraldar uma tira de cartões de crédito de Valentim Loureiro.
Na verdade, o político "mais inteligente" não é o que compra os sapatos, mas o que os dá a comprar aos outros e, de preferência, em quantidade suficiente que obrigue o valor a subir acima dos milhões, para ninguém perceber.
Sobre a notícia dos gastos de 134,4 milhões de euros com os consultores apenas gostaria de perguntar o seguinte: mas então, além do relatório do Tribunal de Contas e da notícia que já todos quase apagámos da memória, o Ministério Público não investiga? Quem foram os consultores? Que ligações tinham a quem lhes adjudicou os serviços? Porque adjudicou? QUEM adjudicou?
Por mais que se condene Valentim Loureiro em muitos dos seus actos (e eu não sou nem Juiz nem sua testemunha de defesa em nenhum processo), a verdade é que a única condenação de que o Major foi alvo pela Justiça no exercício de funções políticas, foi a de ter adjudicado, sem concurso, a produção de uma revista por 19 mil euros! Disse o Juiz, que a adjudicou a um amigo, favorecendo-o, apesar de ter regateado o preço que inicialmente era mais elevado.
Certamente, Valentim Loureiro até foi bem condenado nesse processo e não sou eu quem saberá contestar a bondade da decisão judicial! Mas, então, e os 134,4 milhões de euros que o Estado gastou… sem poder gastar? Não haverá, pelo meio dessas contratações astronómicas, sem concurso, indícios de favorecimento a alguém? Ou seja, ninguém suspeita aqui de crimes de prevaricação? Estará o Ministério Público a investigar? Há notícia disso?
Naaa! Haveria se José Sócrates tivesse comprado os tais sapatos… ou se fosse uma revista em Gondomar... Felgueiras, Oeiras... ou coisa assim, pequena!
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Há 11 anos
1 comentário:
Eh pá... um blogue sobre o livro sobre o Major, sobre as suas traquinices sobre?...
Hummm mmmm mmmm
PnB
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